O espelho sempre fora honesto com Mercedes. Sempre lhe mostrara os braços curtos, as mãos pequenas, de quem fica sempre a um palmo de alcançar os seus desejos.
Não lhe ocultava, o espelho, que os anos se iam sedimentando sobre o seu corpo, tornando-o familiar e estranho, ao mesmo tempo.
Também pelo espelho conseguia ver os móveis desabitados em todas as divisões da casa, a campainha da porta a ganhar pó.
À noite, sentada defronte da janela virtual, o espelho sabia quem Mercedes via. E ao devolver-lhe a imagem, não deixava de lembrá-la da loucura do seu desejo.
Um dia, Mercedes, cansada do espelho, virou-o de costas para a parede.
Esse dia pode ser amanhã.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
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