Álvaro tinha dois cavalos: um, que ele montava, e outro, que seguia ao lado, a passos equestres executados pela metade, dada a sua condição bípede.
O cavaleiro regozijava-se em testar os limites de ambos animais - o relinchante e o falante. Saltava por cima do silvedo, passava por lamaçais, mesmo que o seu destino não o justificasse, com o único propósito de proporcionar-se o espectáculo da nobreza equídea e da miséria humana, à qual, do alto da sua montada, escapava. Nem no leito as duas criaturas de sua pertença se distinguiam, uma vez que ambos repousavam dos esforços diurnos sobre camadas de palha. Mas, apesar de tudo, só uma coisa invejava o lacaio ao seu congénere: ter quem tão diligentemente lhe afagasse o pêlo.
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