domingo, 26 de abril de 2009

Flores de papel no meu jardim

Ela estava grávida. Trazia no ventre um fruto a formar-se, mas ainda por nascer.

Naquele dia, levou uma cassette para o Jardim-Escola. Pô-la a tocar e disse às crianças que se levantassem.

Porque a hora chegara, depois de muitos e muitos anos, para lá do longe, ela, grávida, trouxe uma cassette. E na sala do Jardim-Escola, a única onde havia rapazes, a música ouviu-se.

As crianças tinham-se levantado, por instrução da mulher grávida. Não mais estariam paradas, acompanhariam com os seus passos a música que havia soado lá longe e que estava a chegar, tinha chegado já. Os passos de um exército de crianças soaram nas tábuas do Jardim-Escola, ao ritmo da canção.

Começaram os preparativos, há muito iniciados fora das paredes do Colégio, mas só então, só depois daquele dia lá longe, ao som de uma canção, possíveis entre aquelas paredes.

Do papel de crepe verde e vermelho moldado pelas pequenas mãos das crianças, nasceram flores e foram postas em cestos. Corolas e pétalas cingidas aos corpos infantis, inundaram o Jardim-Escola.

E as crianças saíram à rua e de cesto no braço ofereceram cravos. Porque lá longe já era Abril.