Sorvia o fumo até se lhe inundarem os pulmões, deixando escapar o resto pelos lábios entreabertos. A luz apagada, a cadeira posta em frente à varanda aberta para a avenida, àquela hora, sem movimento, as pernas estiradas. Os olhos esquecidos da janela da frente, com os estores corridos, à qual dedicara tanta atenção nos últimos tempos. Só o fumo lhe merecia atenção. Uma boa metáfora, o cigarro, pensava ele. Fuma-se, sofregamente, até queimar por completo papel e tabaco e, no fim, não fica senão um gosto amargo na boca. Esmaga-se a beata, no cinzeiro ou onde calhar, e não se pensa mais no cigarro. O fumo esvai-se, não tem peso. Tal como a vizinha da frente.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
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