segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ausência

Toda a família está reunida. Falam pouco, mas também, nunca nenhum Alves saiu falador. A Alzira traz um tabuleiro com umas chávenas de chá e umas bolachas de água e sal, para o caso de alguém querer, mas só o Quinzinho, sempre guloso, lhes deita a mão.
A minha mãe folheia o álbum de fotografias, relembrando tempos idos. O meu cunhado, apercebe-se de que o Quinzinho traz, vestido, um colete meu: “Vai já tirar isso!”, ralha. O Beto era militar e tudo o que lhe saía pela boca fora, era uma ordem que não admitia desobediência. O meu filho corre até ao quarto e aí, insubordina-se em segredo, mantendo o colete vestido.
A Tina acaricia a barriga, grande de oito meses. A princípio, todos temeram que o bebé nascesse antes de tempo, mas a criança lá se aguentou onde estava.
A Alzira, agora, está nervosa; irrequietam-se-lhe as mãos quando não estão ocupadas. Gostava de poder dizer-lhe umas piadas, daquelas que sempre lhe arrancam um risinho quando está triste, mas não creio que consiga ouvir-me com toda a terra que me deitaram em cima, as flores e o caixão de carvalho maciço.

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